quarta-feira

Como unha

Minha idéias brotam como barba no meu rosto.
Brotam, mas brotam falhas.
Crescem, mas nunca o suficiente...E eu nunca sei se é porque elas não deveriam crescer tanto, ou se sou eu que me irrito e as corto fora.

Idéias

Como essa, que surgiu do nada.
Como uma idéia surge pra você?
Pra mim, bastou olhar no espelho o rosto que há dias não barbeio.
Pensar que as idéias sempre vão nascer, mas que sempre precisarão ser podadas para que não fujam do controle.
Pra que não soem ridiculas ou pra que não escondam aquilo que você realmente quer mostrar.

Mas elas surgem e crescem. Assim como seu cabelo, suas unhas, elas crescerão até onde você deixar....
E seja grande ou pequeno, terá de ser confortável, pois só assim será bom o suficiente.

Idéias precisam ser confortáveis não?

sábado

Dedos dormentes

É bem assim. É quase como se a gente sentisse mas, ao mesmo tempo, não sentisse nada.

Eu me sinto assim quase todo dia. Converso com as pessoas mas, no fundo, parece que não conversei com ninguém. Quase como quando nossa mão fica dormente, e só conseguimos definir que estamos tocando algo porque estamos vendo, e não por estarmos sentindo.

Alivia e entristece. Desejo que não se sacia.

E pra mim, desejos são compartilhados, pois só assim podem ser realizados.




domingo

Oco

Proteção.

É isso que eu quero....proteger e ser protegido.
Mas proteção também não existe...
Acabo protegendo tantas coisas que, se eu realmente soubesse de tudo que protejo sem querer, com certeza não conseguiria salvar nada.
Assim também, muitas pessoas acabam me protegendo daquilo que me faz mal sem ao menos imaginar que estão fazendo isso. E no fim, simplesmente estamos retardando o que já está fadado a ocorrer, aumentando nossas expectativas e, consequentemente, nossas futuras frustrações.

É filosófico até.
Esse gostinho de "te salvei por mais um dia", de passar a perna no destino sabe?
Mas a gente não passa a perna em nada.
A gente espera as coisas acontecerem.
Espera acordar vivo amanhã, espera que todos que amamos acordem vivos também, espera que não haja guerra, nem fome, nem desigualdade no mundo...espera até que a festa no fim de semana seja a melhor de todas.

Mas ainda existe guerra, fome e desigualdade, a festa nem foi tão boa assim, e você pode não acordar nunca mais. E nada disso tem a ver com proteção, né? Pois é...

Eu sei, sou niilista pra cacete.

Existe fim?

Existe?

Eu tenho cá minhas dúvidas.
Do fim sempre sobram pontas para um novo começo.
O fim marca um ponto de um período.
O fim só é fim até o começo do novo;

O fim do dia é o começo do novo...mas nem sempre a gente considera o novo dia após a meia noite.
Nem sempre a gente sabe quando um namoro acabou.
O corte de cabelo não significa o fim do penteado.
Eu não acabo.
Eu me multiplico.
Células minhas vagam pelo ar, estão na pele dos outros....minhas idéias andam pela mente de alguém, minha memória não acaba só em mim, minhas coisas não são só minhas e nem sumirão quando eu perecer.

Existe um periodo, uma fase, um jeito, um estado.
O fim, meus amigos, não existe.

Eu continuo...pleno ou não, eu continuo

segunda-feira

Piscadela

Assim, bem rápido como um piscar de olhos, o dia passa.
Pra falar a verdade o dias nem passam tão rápido assim, mas saber que os segundos que passaram REALMENTE passaram e continuam passando sem parar é realmente algo um pouco assustador.
É quase como um carro sem direção...O carro vai parar em algum lugar, talvez até numa árvore, mas não sabemos onde ela está, nem quando vai chegar.

A cada dia morremos um pouco.

A cada piscar de olhos, um pouco da vida se foi.

E a gente continua vivendo. E vivendo. E comendo. E respirando. Até não ter mais como comer, nem porque respirar....
A vida corre mesmo e nem tem porque ficar parada. Quem virá depois de nós também nascerá correndo do tempo, e viverá uma piscadela de cada vez até não poder piscar mais.

sábado

Pele descartável

Pela primeira vez (ou talvez seja só uma impressão) eu estou vindo aqui sem saber o que dizer.
Tento bolar aquele texto que te amarre na cadeira, ou que te faça ao menos pensar numa situação, e por vezes aquilo que parece natural acaba sendo meio que montado. Quase como estar apaixonado. A gente fica estabanado, fala coisas que não devia, tudo porque temos medo de que a pessoa que somos de verdade assuste o outro.
Bom hahaha acho que se fosse pra alguém ter medo de mim, já teriam corrido desse blog afinal eu sou bem sincero quanto essas questõezinhas incomodas, e eu insisto em incomodar mais....Mas ainda sinto aquela "falta de desenvoltura" que se sente quando estamos apaixonados.

Ainda não sou o "Don Juan" nesse campo.

É uma sensação engraçada...Contruir uma imagem e, a partir disso, "ser" alguém.
Naturalmente eu sou um animal. Minhas vontades não passam de extensões de minhas necessidades instintivas...fome, sexo, sono, dor...mas parece que a real graça de viver está necessariamente nesse papel que eu interpreto, nesse grande palco que é ...bem... qualquer lugar onde eu esteja. Distingüir nossa personalidade....Ser diferente...Ser único.
Toda situação exige uma postura diferente (e, consequentemente, uma pequena alteração de personalidade), mas no fim das contas sempre se volta pro ponto zero. Não posso quebrar os pratos aqui de casa se me der vontade, ou querer ficar parado no meio de uma festa sem que me achem esquisito. E ai, acabo sendo guiado não pela minha própria vontade, e sim pela dos outros.
Disfarço meus instintos com máscaras, para que assim eu possa ser "considerado" civilizado....mas ao olhar pro lado, vejo que quem considera são, assim como eu, cachorrinhos em coleiras coloridas, escolhidas por outros cachorrinhos de coleiras, todos disfarçados de pessoas.

Hahahahahaha

No fim das contas, eu sei que papel devo interpretar, mesmo que ele não seja o ideal pra mim. E por isso sei que minha coleira não fui eu que escolhi.

domingo

Corpo

Bem lá, no fundo das nossas células, nós sabemos que vamos morrer.
Nosso corpo vai se dissolver na terra, e assim como qualquer outro objeto inanimado, nós iremos perecer.
Consideramos nossos corpos como um objeto sagrado, mas tratamos o corpo de uma vaca como um objeto inanimado. Compramos sua carne em filés no açougue sem nem cogitar que ela lutou pela sobrevivência assim como nós, seres evoluidos, certamente faríamos. E, no fim das contas, ninguém se toca de que talvez a vaca tivesse uma alma como eu ou você.

Ser vivo....afinal, o que é SER? É ter consciência de existência? É saber o que somos?
Pois digo que nós não somos mais que meras vacas rumo ao abate....Nossa mente, apesar de toda filosofia, pode não passar de mera atividade elétrica dentro de um orgão que, assim como nossos musculos, um dia vai atrofiar, vai morrer, e vai sumir.

Eu penso que o que sobra da gente é a memória que os outros tem de nós...
Justamente porque, se me falassem que o José da Silva morreu, ele seria tão vivo pra mim quanto a vaca abatida pro meu almoço. Triste realidade? Pois é

Vida é plena enquanto ativa
Depois dela, é tudo uma questão de crença...

Ar prisão

Há coisas que fazemos na vida que nós simplesmente fazemos.
Como respirar. A gente simplesmente respira, e não precisamos pensar pra fazer isso.

Mas as vezes eu paro e penso em como essas coisas funcionam...e o engraçado é que, quando isso acontece, eu simplesmente não sei mais como fazer. Como se meu corpo entrasse em choque com o pensamento e travasse no ato.
Sim, eu já parei pra pensar na forma que respiro...como eu faço pra puxar o fôlego, o ritmo da minha inspiração, o ar passando pela minha garganta....e meu pulmão parou até que eu pensasse em outra coisa, pra que meu corpo pudesse fazer o serviço em paz.
E bateu um desespero ao perceber que eu não tenho controle nem sobre essas pequenas coisas.
Hoje eu quero parar pra entender a minha rotina. Estou pensando até em começar a comer sem talheres, passar dias em silencio, ou ir trabalhar de pijamas.

Mas preciso do ar. E não tenho fôlego pra me enfrentar.

"Estamos todos condenados à prisão perpétua, em solitária, dentro de nossas próprias peles"

segunda-feira

Sobre eu e todos

A gente sente que a verdade se perde quando as palavras são mais importantes que os atos.
Dizer que amamos alguém nunca é tão forte quanto um abraço bem dado....Assim como dizer que odiamos nunca é tão eficiente quanto um soco na cara.

Engraçado que eu só tenho esse blog pra falar do que sinto...E em todas vezes acho que me escapam detalhes que só a minha respiração poderia dizer. Quando há tantas pessoas pra ver, e tão poucas oportunidades pra que isso aconteça, a palavra acaba se tornando a unica verdade existente, e meu corpo desaparece no meio das letras.
Em muitos momentos penso o que aconteceria se eu colocasse outra pessoa pra escrever algo por mim...

Será que alguém iria notar?
Será que alguém sabe quem é o Cotz por trás do blog?
E será que alguém sabe quem é o Cotz mesmo quando o vê frente a frente?

Eu duvido que alguém saiba de verdade....Mas queria muito que alguém descobrisse.

sexta-feira

Elétrico

Uma conversa, ou mesmo uma troca de olhares, são coisas que não existem tatilmente mas que modelam todo espaço em que ocorrem.
É uma questão de clima: As paredes, os móveis, os corpos presentes absorvem esses atos e os transborda, inundando o ambiente e transformando cada pedaço do lugar.

Nessas horas, o ar se torna elétrico.

Sinto faiscas na lingua, como se cada palavra minha tivesse o potencial de explodir tudo. Uma sensação de expectativa, onde até o silêncio tem textura. Tudo friamente calculado, o corpo travado, suor frio, coração em disparada.....
Tudo isso por uma conversa, ou mesmo uma troca de olhares...Mesmo quando é a pessoa que eu mais conheço no mundo.

Mas, todas as vezes eu sinto que, se estivesse sozinho, o tempo iria parar....
Como se a realidade secasse.
Como se existisse uma unica peça no tabuleiro de xadrez.
Como se não houvesse vida se ninguém está aqui para vê-la acontecer.

No fim das contas, essa eletricidade é a energia que faz as minhas engrenagens funcionarem.

quinta-feira

Consumiveis

Eu consumo pessoas.

Me alimento de cada pedaço, desde o fio de cabelo à palavra solta. Absorvo cada momento seu, toco sua carne, pego pra mim sua identidade e tento torná-la parte do meu corpo... Energia pra me manter em movimento, energia pra ser alguém diferente.

Me torno meu melhor amigo, meu pior inimigo, a amante que sempre quis, a que me deixou pra trás.....E no fim, eu sou todos, e acabo não sendo ninguém.
Se a gente parar pra pensar, nunca temos em nós algo que é realmente nosso. Tudo vem de fora. No fundo, nada do que é nosso veio da gente.

E assim, canto uma musiquinha:

"Eu consumo pessoas
E elas me consomem também
Quem sabe um dia eu ainda possa sentir o gosto
De ser quem sou, do pedaço de um de vocês"

sábado

Duro e frio

Estou acordado, mas meu corpo dorme.

À noite, as pessoas estão dormindo, as luzes se apagam, e assim sobro eu, querendo viver tudo que perdi. Vontade de ver o mundo, enquanto ele insiste em fugir com o dia
E todo dia luto contra o sono, só mais um pouquinho, pra ver se será diferente. Se vou conversar com alguém, se vou contar como foi meu dia, se alguém vai me dar um beijo de boa noite...

Mas não há ninguém acordado, e as luzes estão apagadas...

Minha pele não sente o toque do abraço,
Não sinto o gosto da comida,
Esqueço de tudo que vi.
E enquanto a minha mente viver em alerta, meu corpo será duro e frio.

Minha mente precisa dormir, para meu corpo acordar.

terça-feira

Não culpe o tempo

A gente pára, mas o tempo não. E assim, vai se acumulando a poeira aos nossos pés.
Poeira do passado que incomoda, que se enfia entre o vão dos dedos, que gruda em nosso corpo e que te faz lembrar, sempre, de que há algo sujo em você.

A gente pára, mas o tempo não. A cada dia que passa o trem chega mais cedo, as pernas estão mais cansadas e sempre temos que correr mais pra chegar onde se quer. Lugar que, no fim das contas, é o mesmo pra onde se vai todos os dias.

A gente pára, mas o tempo não. Pessoas vem e vão, e cada vez que isso acontece percebemos que, por serem tão grandes, não podemos agarra-las com as mãos. Não é dificil tratar pessoas como se fossem objetos....Mas é dificil ver esses objetos seguindo seu rumo sem sua permissão.

A gente pára, mas o tempo não. O tempo segue seu fluxo inabalável, e nós o seguimos até o fim de tudo....do próprio tempo, dos nossos fatos, e das pessoas....onde tudo pára.

Mas só no fim tudo acaba.

Até lá, a gente pára...
Ou não.

segunda-feira

Medo de dormir

Uma noite de sono...Isso ninguém consegue tirar