quinta-feira

Cegueira

Para o cego, o tato vê

.
.
.
.
.

Mas que tato há entre o cá e o lá?

A ausência na mão do cego é combustível da procura, mas a ausência em excesso o afoga.
Assim como a luz que nos faz ver pode também nos tornar cegos.

Solidão pouca basta pra saudade. E de saudade não nego, pode também se afogar.
Por isso, eterno naufrago, os cegos vivem no mar.
Nós, que olhos temos para nos vermos, mantemos distância segura dar razão a nossa visão.
E essa distância me faz cego, afogando em aflição, em busca de um toque que conforte, que me diga "Shhhhiii aqui estou pra te salvar da saudade".

Mas da saudade não se foge nem os cegos, nem os que vêem.
Pois a saudade alcança a todos...Basta espaço pra que se instale.

Líquido

As coisas escorrem.

O tempo vaza do relógio, as pessoas escapam de suas casas, água passa pelos dedos e a mão fechada se torna vazia.

O relógio se enche de tempo novamente, as pessoas voltam pras suas casas, a mão se abre novamente mas a água que se foi continua ali no chão, esparramando-se, preenchendo o espaço que ela quiser.

As coisas que passam ficam onde elas se permitem ficar, e nós só podemos apreciar o tempo que se vai enquanto escorrem por nós.

Porque o relógio pode se quebrar, as pessoas podem não voltar, a água pode ficar onde ela está, mas todas elas já terão passado por nós.
E esse tempo que passamos juntos...Ah isso elas não tiram de mim.