quinta-feira

Consumiveis

Eu consumo pessoas.

Me alimento de cada pedaço, desde o fio de cabelo à palavra solta. Absorvo cada momento seu, toco sua carne, pego pra mim sua identidade e tento torná-la parte do meu corpo... Energia pra me manter em movimento, energia pra ser alguém diferente.

Me torno meu melhor amigo, meu pior inimigo, a amante que sempre quis, a que me deixou pra trás.....E no fim, eu sou todos, e acabo não sendo ninguém.
Se a gente parar pra pensar, nunca temos em nós algo que é realmente nosso. Tudo vem de fora. No fundo, nada do que é nosso veio da gente.

E assim, canto uma musiquinha:

"Eu consumo pessoas
E elas me consomem também
Quem sabe um dia eu ainda possa sentir o gosto
De ser quem sou, do pedaço de um de vocês"

sábado

Duro e frio

Estou acordado, mas meu corpo dorme.

À noite, as pessoas estão dormindo, as luzes se apagam, e assim sobro eu, querendo viver tudo que perdi. Vontade de ver o mundo, enquanto ele insiste em fugir com o dia
E todo dia luto contra o sono, só mais um pouquinho, pra ver se será diferente. Se vou conversar com alguém, se vou contar como foi meu dia, se alguém vai me dar um beijo de boa noite...

Mas não há ninguém acordado, e as luzes estão apagadas...

Minha pele não sente o toque do abraço,
Não sinto o gosto da comida,
Esqueço de tudo que vi.
E enquanto a minha mente viver em alerta, meu corpo será duro e frio.

Minha mente precisa dormir, para meu corpo acordar.

terça-feira

Não culpe o tempo

A gente pára, mas o tempo não. E assim, vai se acumulando a poeira aos nossos pés.
Poeira do passado que incomoda, que se enfia entre o vão dos dedos, que gruda em nosso corpo e que te faz lembrar, sempre, de que há algo sujo em você.

A gente pára, mas o tempo não. A cada dia que passa o trem chega mais cedo, as pernas estão mais cansadas e sempre temos que correr mais pra chegar onde se quer. Lugar que, no fim das contas, é o mesmo pra onde se vai todos os dias.

A gente pára, mas o tempo não. Pessoas vem e vão, e cada vez que isso acontece percebemos que, por serem tão grandes, não podemos agarra-las com as mãos. Não é dificil tratar pessoas como se fossem objetos....Mas é dificil ver esses objetos seguindo seu rumo sem sua permissão.

A gente pára, mas o tempo não. O tempo segue seu fluxo inabalável, e nós o seguimos até o fim de tudo....do próprio tempo, dos nossos fatos, e das pessoas....onde tudo pára.

Mas só no fim tudo acaba.

Até lá, a gente pára...
Ou não.

segunda-feira

Medo de dormir

Uma noite de sono...Isso ninguém consegue tirar